No século XIX, o Rio Comprido, que na colonização já havia sido uma monocultura de cana-de-açúcar, se transformou em um bairro de elite, servindo de moradia para condes, viscondes e barões, sobretudo alemães e ingleses. Porém, com a inauguração do viaduto Engenheiro Freyssinet em 1919, o luxuoso bairro bucólico passou por mudanças sociais, transformando-se em uma região de classe média baixa, lembrada apenas como passagem entre as zonas norte e sul da cidade.
O bairro, marcado na literatura como morada de Isaías Caminha, famoso personagem de Lima Barreto, tem hoje suas iniciativas culturais apagadas pela sombra do elevado, que se faz de céu para quem caminha pela Avenida Paulo de Frontin. Mas olhos atentos enxergam no concreto do viaduto muito além de uma estrutura cinza que degrada a região: são mais de cinco quilômetros repletos de grafites, murais e pixações espalhados por todos os cantos, trazendo cor e vida para o bairro.
A partir das obras de artistas como Toz, Igor SRC Nunes, Nata Família, Thiago Leal e tantos outros, a estrutura do elevado deixa de ser vista como uma intrusa e passa a ser parte constituinte do local. Afinal, as intervenções visuais não só embelezam o bairro, mas fazem com que "a parte debaixo do viaduto" adquira uma força própria, capaz de territorializar a região e carimbar o concreto com toda a riqueza cultural que ali ecoa.
Fotos: capturas de tela via Google Street View
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