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Literatura parietal


O Paginário (www.paginario.com.br) é um projeto de arte, literatura e intervenção urbana que surge do desejo de levar literatura para a rua, tratar a leitura de maneira física e coletiva e criar um trabalho híbrido de artes visuais, escrita, intervenção urbana e sociedade. Até meados de 2018, o projeto contava com mais de 50 murais montados em mais de 10 estados do Brasil – a maioria em ruas e espaços abertos, e alguns a convite de instituições como o SESC, o Instituto Moreira Salles e o MAR-Museu de Arte do Rio –, quatro em Portugal (Oeiras, Lisboa e Porto) e um em Madrid, na Espanha, realizado a convite do centro cultural La Tabacalera. Por meio do concurso “Design Politics: Respect – Rio”, o projeto ganhou reconhecimento internacional de instituições como Theatrum Mundi, People’s Palace Projects, NY University e LSE Cities.

O Paginário surgiu a partir de uma insatisfação com a oferta textual que a rua nos apresenta e pela vontade de, nesses tempos digitais, tratar a literatura de uma forma material e manual, além da intenção de criar um espaço de leitura coletivo.

Com essas inquietações, amigos se juntaram no final de 2013 para fazer algo sobre isso. Uma das inspirações veio da Escadaria Selarón, marco artístico e cultural da Lapa e do Rio de Janeiro. E se todos aqueles azulejos fossem literatura? E se cobríssemos lugares da cidade com páginas de livros? Assim, passamos a fazer e a convidar amigos a fazerem reproduções das páginas favoritas de nossos livros favoritos - romances, contos e poesia, principalmente - e marcar com iluminadores de cores diferentes a passagem que mais gostam em cada uma dessas páginas. Depois, colamos essas páginas em locais da cidade. O resultado: murais de páginas que adoramos com trechos que adoramos coloridos.

Alguns depoimentos:

“Se você estiver na Rua das Laranjeiras e pegar a General Glicério, vai ver do lado esquerdo, numa parede na sua frente, um monte de páginas de livros grudadas na parede. E é uma coisa linda! Tem um Rilke, um Milton Hatoum, pelo menos dois Paulo Henriques Brito, e várias outras coisas que valem a pena ir procurando. Tem um recado dizendo que se alguma daquelas páginas estiver danificada pela chuva ou pelo vento ou pelo tempo, você (eu, ele, ela, a gente, aquela pessoa ali, passando…) pode colar uma outra da qual você goste, marcando em cor a parte a se destacar e colocando o nome do autor e do livro. É tão bom!”

Enrique Diaz, ator e diretor premiado no teatro e cinema

“Descobri por completo acaso, que sempre foi a melhor maneira de descobrir qualquer coisa. Fui comprar pão, descobri um muro coberto de páginas de livros. Era o Paginário, mas eu ainda não sabia nada a respeito. Fotografei, li trechos de Melville e Kafka. Acho que tem Nabokov, mas pode ser só desejo meu. Fiz da foto o fundo de tela do meu celular. Daqui a pouco, quando sair de casa, vou passar pelo Paginário de novo. Que ótimo isso.”

David França Mendes, roteirista premiado de filmes e séries de TV

“Era noite e voltava do mercado. Por pouco não percebi o que se passava naquele muro. Na minha distração eram flores que brotavam dos tijolos. Estranho. Parei. Aos poucos fui mergulhando. A parede foi desaparecendo, ganhando outras dimensões. Fiquei um tempão olhando. Lindo demais! Muito emocionado, por pouco não chorei de alegria, de ver algo de tamanha beleza e sensibilidade nesse mosaico de aventuras e gostos literários e que, ainda, toca em temas como ocupação dos espaços públicos, educação, arte, poética, etc. Foi como um filme, vozes, lugares… sonhos, delícias… tudo junto, ali. Me deu vontade de abraçar, de beijar o muro! Vou imprimir uma página e colar lá. É uma das coisas mais bacanas que já vi!”

Victor N. Urzua, geográfo

PS. O criador do Paginário é Leonardo Villa-Forte, artista, escritor, pesquisador, autor dos contos do livro O explicador e do romance O princípio de ver histórias em todo lugar, do conto Agenda, e do blog MixLit - O DJ da Literatura, tido como pioneiro na arte da remixagem de literatura no Brasil. Colunista da Revista Pessoa, já colaborou com ensaios para a revista Serrote e o Blog do IMS. Atualmente é professor e doutora-se em Letras. Para conhecer seu trabalho: www.cargocollective.com/leonardovillaforte


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