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Pedra que conta histórias


O bairro da Pedra de Guaratiba fica no litoral oeste da cidade do Rio de Janeiro, entre Barra de Guaratiba e Sepetiba. Tendo o belo visual da Restinga da Marambaia ao fundo, a Pedra, como é mais chamada na região, abriga um estilo de vida ainda bem tranquilo, com muitos pescadores, um comércio razoável, a praça onde seus moradores se reúnem às noites e uma boa quantidade de restaurantes especializados em frutos do mar, que aos domingos ficam lotados. É o dia em que músicos se apresentam em frente à praia, o tradicional Chorinho da Praça, hoje o principal atrativo cultural do bairro e que atrai gente de longe.

Do Chorinho dá para caminhar pelo imenso píer de madeira, onde também funciona uma feira de artesanato aos domingos, e caminhar pela beira da praia até a outra extremidade, onde existe, desde 1629, o principal monumento histórico do bairro, a Igreja de Nossa Senhora do Desterro, de frente para o mar e que simboliza a época da Fazenda dos Carmelitas, inaugurada no final do século XVI. O palacete do convento, que ficava perto da igreja, este não ficou para contar a história, demolido na década de 1950.

No final do século XIX o palacete recebeu personalidades da vida política brasileira, como o presidente Floriano Peixoto. Era nele que morava Raul Capelo Barroso, deputado que fez sua vida pública na Pedra de Guaratiba. Quem também ia com frequência ao palacete, convidado por Raul, era o músico Catulo da Paixão Cearense, autor do clássico "Luar do Sertão". Eram dias festivos, com os salões iluminados por possantes lampiões, com comida, bebida e bandas de música, entre elas a Deozilio Pinto, fundada em 1870 e que ainda existe, com sua sede bem perto da praia.

A vida cultural da Pedra também passa pela Arena Abelardo Barbosa, a Arena Chacrinha, inaugurada há poucos anos e mantida pela prefeitura, uma instalação cultural bem confortável e que tem uma programação intensa, inclusive com a presença de alunos de escolas públicas da região. Nos bares e restaurantes muitos músicos se apresentam, assim como pintores expõem suas telas. A Pedra ainda abriga muitos ateliês, deste o tempo em que Heitor dos Prazeres Filho morava no bairro e agitava a sua vida cultural.

Não se vê grandes edifícios na Pedra, mas muitas casas e sobrados antigos e bem conservados, onde a vida passa tranquila. Numa dessas casas funciona o Coletivo Mulheres de Pedra, com grande participação na vida cultural do bairro, enfatizando a luta contra a discriminação de negros e mulheres. Saraus, peças de teatro, debates, apresentações musicais e exibições de filmes estão entre as atividades das Mulheres de Pedra, que recebem convidados de todo o Brasil em suas amplas (e aconchegantes) instalações.

Até 1967 o bonde rodou pela Pedra, vindo do bairro de Campo Grande, e deixou muitas saudades nos moradores mais antigos, assim como, até a década de 1980, as águas da Baía de Sepetiba ainda eram limpas e atraíam milhares de pessoas no verão, que alugavam casas e geravam renda para moradores, pescadores, artistas e donos de restaurantes. Hoje não há mais bondes e suas praias são poluídas desde a década de 1970, com a instalação do Porto de Sepetiba e os resíduos químicos de indústrias despejados na baía, além do esgoto in natura jogado impiedosamente nas praias. Apesar de tudo, a Pedra reserva seus encantos para quem a visita, bastando, para isso, fazer o passeio que vai da Igreja do Desterro até a APA da Brisa, uma área de proteção ambiental onde os moradores costumam fazer piqueniques.

Se o passeio for feito no domingo, melhor ainda, pois dá para conhecer o Chorinho, as Mulheres de Pedra, a Feira de Artesanato e subir no pequeno mirante de pedra onde se observa boa parte do litoral. Se o tempo estiver claro, dá para ver a Ilha Grande e imaginar, sem muitos esforço, a época em que corsários e piratas ingleses, franceses e holandeses infestavam a região, na época do Brasil Colônia, em busca dos navios portugueses repletos de riquezas que passavam por ali.


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